quarta-feira, 2 de abril de 2008

um presente

O VÔO

Goza a euforia do vôo do anjo perdido em ti.
Não indagues se nossas estradas, tempo e vento, desabam no abismo.
Que sabes tu do fim?
Se temes que teu mistério seja uma noite, enche-o de estrelas.
Conserva a ilusão de que teu vôo te leva sempre para o mais alto.
No deslumbramento da ascensão
se pressentires que amanhã estarás mudo
esgota, como um pássaro, as canções que tens na garganta.
Canta. Canta para conservar a ilusão de festa e de vitória.
Talvez as canções adormeçam as feras
que esperam devorar o pássaro.
Desde que nasceste não és mais que um vôo no tempo.
Rumo do céu?
Que importa a rota.
Voa e canta enquanto resistirem as asas.

Menotti del Picchia
Autor do poema acima. Jornalista, poeta, romancista, contista, ensaísta, teatrólogo, historiador e pioneiro da indústria cinematográfica brasileira, Menotti Del Picchia é uma das maiores expressões da vida cultural paulista, com destacada atuação em todas as áreas por onde trafegou, entre as quais a Semana de Arte Moderna em 1922, da qual foi um dos líderes.

Fernando Colella
O que me presenteou com o poema acima. Designer. Teatrólogo. Músico. Filósofo. Meu puta amigo. Ele diz que estudou comigo apenas um ano na faculdade, mas parece bem mais. Anos de indas e vindas, mas nunca com a quebra do nosso vínculo. Ele tem razão: a vida é na verdade bem mais leve que toda essa filosofia que forjamos para sobreviver em um mundo repleto de complicações e dúvidas.

Um comentário:

Fernando Colella disse...

Que dizer? Acho que mais nada, exceto que é ótimo poder voar contigo... Amo-te!